O pouco entendimento sobre o assunto e a dificuldade de lidar com a frustração, dificultam que a criança aceite a morte. Em algum momento ela tem contato com a morte de um animal de estimação, de um besouro... essas situações oportunizam que sejam feitos certos esclarecimentos acerca do que ocorreu. O animal morreu, não tem mais nenhum movimento, não sente dor e não o veremos mais, somente lembraremos dele - só existirá na nossa lembrança. Você ficará triste, pode conversar sobre isso quando quiser, aos poucos você conseguirá ficar melhor.
Dessa forma ela terá acesso as informações básicas sobre a morte. Tudo que é vivo morrerá, depois que morre não volta e que também depois de morto não se mexe, não respira.
Ocorrências desse tipo, possibilitam o contato com a morte, sem que seja tão doloroso para a criança e para o adulto que irá orientá-la. Mesmo sabendo o quanto é triste perder um animal de estimação ou encontrar um passarinho ou inseto morto, perder um parente ou amigo é mais impactante, sob todos os aspectos.
A criança, desde o nascimento lida com situações de perda, como: o brinquedo quebrado ou perdido, as mudanças de endereço ou de escola, a separação dos pais, o distanciamento da professora do ano anterior, a babá que vai embora, o irmão que nasce. Com uma mediação adequada, ela se torna mais apta a lidar com os revés que se apresentam ao longo da vida. Evitar que a criança não sofra, não chore, não fique triste, poderá transformá-la numa pessoa cheia de medos, de dúvidas, fragilizada e que possivelmente se sentirá incapaz de correr riscos, de mudar, de aceitar aquilo que não conhece.
Os adultos acreditam que que não falando sobre a morte, sobre a pessoa que morreu, está protegendo a criança. Não encontrando espaço para se expressar, ela pode se sentir sozinha e confusa. Falar ajuda a compreender a perda, a diminuir o sofrimento e seguir buscando se adaptar a nova realidade.
Quando falamos em crianças, pensamos logo em brincadeiras, alegria, cores, gargalhadas, teimosia, doces e travessuras. É difícil imaginá-las sofrendo devido a morte de alguém.
Comunicar a criança sobre a morte de um parente, não é tarefa fácil, ainda mais se esse parente é um dos pais, uma avó, um irmão. É necessário que os adultos entendam, que apesar da enorme dor, a criança precisa ser comunicada o quanto antes. Essa informação inicial deve ser simples, clara e baseada na verdade; sem metáforas. A notícia deve ser dada por alguém próximo, com quem a criança tenha um bom vínculo e tenha estabelecido uma relação de confiança. Esse momento é delicado, e a forma como será encaminhado, poderá ser determinante para um processo de luto favorável, onde ocorra um ajustamento, uma reorganização. Evitando, dessa forma, distúrbios psíquicos em etapas seguintes.
Nessa ocasião a criança carece da intervenção de adultos que consigam lhe apoiar, que transmitam segurança e que suportem sua dor.
Justificar que a pessoa que morreu, está dormindo, foi embora, está descansando... não é adequado, porque reforçam a fantasia de que irão voltar e consequentemente causará ansiedade e medo de que não voltem. É comum que os adultos que têm dificuldade de lidar com a morte, tentem afastar a criança do contato com informações mais verdadeiras.
Em meio a toda consternação, a criança precisa ter a oportunidade de entender o que aconteceu, se aproximando da realidade de acordo com o que for possível para ela, em função da sua maturidade.
Nesse momento delicado deve-se evitar comentários, como: agora você é o homem da casa, agora você cuidará da sua mãe, irá cuidar dos seus irmãos... Nesse momento ela quer ser cuidada.
Ela deve ser comunicada que a pessoa morreu e que não voltará mais. também é relevante uma explicação concisa sobre a causa da morte. É imprescindível saber que, pode fazer perguntas, falar sobre o ocorrido, dizer como se sente e o que está pensando e que também pode chorar, ficar triste, sentir medo, saudade, raiva...
A criança precisa compreender que apesar de toda aflição, ela terá espaço para expressar seu sofrimento e que será cuidada e protegida. Isso lhe trará mais confiança e esperança.
Por mais difícil que seja, a criança, por volta dos 4 ou 5 anos deve participar do velório e do funeral. Será fundamental para elaboração da perda. Ela pode ter uma informação resumida de como são esses rituais fúnebres.
Mas ele não deve ser forçada a participar.
Outra questão que merece ser mencionada, é a postura do adulto que dará apoio a criança, nesses primeiros instantes. Ele não precisa esconder as lágrimas, prender o choro, disfarçar a tristeza. Demonstrar os sentimentos é pertinente, mas requer que seja poupada da presença de adultos mais ansiosos, desesperados ou que dizem que a vida não tem mais sentido, que tudo acabou. Também não é necessário dizer tudo no mesmo dia, sufocar a criança com informações, ela irá aos poucos, buscando suas respostas. Somente na adolescência terá um entendimento mais sólido sobre a morte. Embora saibamos que a dificuldade de aceitar a morte, parece não ter idade, e ocorre em todas as culturas. Mas é possível que a partir de intervenções satisfatórias, na infância tenhamos adultos mais tranquilos e menos ansiosos para lidar com essa dor da perda.
Nos primeiros dias após a morte é natural que a criança apresente comportamentos de irritabilidade, introversão, agressividade e isolamento. Choros repentinos, insônia, falta de apetite, problemas de relacionamento e de aprendizagem... caso esses sintomas se tornem muito intensos e frequentes, é necessário buscar uma ajuda mais especializada. É natural que em datas comemorativas apareçam alguns comportamentos que já haviam sido superados.
Também é habitual, observar que a criança pode atribuir a culpa da morte a si mesma ou a alguém próximo, principalmente se ela já presenciou desavenças. Essas questões precisam ser tratadas com delicadeza, quando forem percebidas.
Sugestão de livros infantis, para ajudar a criança a entrar em contato com essa questão triste e inevitável da vida.
- Morte morrida, de Ernani Ssó
- Tempos de vida, de B. Mellanie e R. Ingpen;
- A história de uma folha, de Leo buscaglia
- Menina Nina, de Ziraldo;
- A montanha encantada dos cisnes selvagens, de Rubem Alves;
- A poltona vazia, de sandra Saruê e Marcelo Boffa;
- Vovó Nana, de Margaret Wild e Ron Brooks.
Jemima Morais Veras
Click aqui para ler outros textos
Nenhum comentário:
Postar um comentário